sexta-feira, 31 de outubro de 2008

sapos.

Quando ela passou a acreditar que não valia a pena? É uma incógnita. Ela segurou com as unhas as ultimas e espinhentas esperanças até se dar por vencida, como alguns duvidavam. Ela ria, gargalhava e se sentia um tanto quanto vulgar tentando mexer o cabelo de forma atraente naquela direcção. Então, a partir daquele dia, ela não quer mais olhares, nem tentar se firmar sob uma concepção moderna e popular. Ela transbordava vontade, e hoje ela possui um quase deserto entre as pálpebras e as pupilas. Tentaram alguns a olharem mais profundamente, mas, eles olham, não enxergam. E com o rosto impassivo, ela podia ver expressões que dançavam lentamente entre: desejo, obsessão, desejo, gula, desejo, nojo, nojo. Nojo. O nojo vinha dos olhos dela, pois somente enojando-os ela acreditava conseguir repulsa deles. E estava enganada, o ser humano quando não está enlameado pela própria produção agrícola de excrementos fecais, ele acredita estar em um patamar superior ao dos sapos. exactamente quando somos jogados a nossa lama é que nos purificamos. Estes que não se afastavam com o fatal olhar, estes nunca sairiam da concepção anfíbica que ela os classificava. Paradoxalmente difícil de entender, mas, então as lágrimas parecem não cair da mesma forma rápida e instantânea, por que você está na lama. E ela estava na lama. Sua expressão impassiva denunciava toda a angustia e sensatez. Eles não enxergavam, só olhavam. Olhavam-na passar, olhavam o jeito que o jeans frouxo dançava em seus quadris, e olhavam o cigarro dela lentamente passeando da boca para baixo, de baixo para a boca, sem nunca entender o real motivo do desprezo inicial. Explicar ela não conseguia, juntar-se a alguém, tentar ser mais próxima que pele e pele era improvável, estava fora dos seus olhos secos e perdidos, olhando desfocadamente para cima enquanto eles estavam tão perto que um simples movimento tornaria a noite teatral. Nobreza e simpatia deslizavam sobre a sua imagem, tentando conquista-la com um ramalhete ou uma frase bem gravada de um filme clichê americano. Antes, ela até acreditava e tentava procurar ainda que passiva dentro das pupilas, e não via nada mais do que sapos, sapos e sapos. Andou quarteirões inteiros, com uma mão no bolso da camisa, e a outra com um cigarro entre os dedos gordos. Chuviscava, e ela nem notava. Sentou-se em um degrau, e puxou o capuz, mal notando a extrema dificuldade de sentar em algum lugar daquela escada movimentada de semelhantes jovens noturnos. Furtivamente, alguns olhares a atravessaram, alguns a criticavam, alguns a reconheciam, mas, acredito que nenhum chegou a falar sobre ou com ela. Ela exalava um certo teor de dúvida. Ficou a brincar com algumas pedras no chão, entendiou-se, sustentou o queixo com a palma da mão até a tornar vermelha o suficiente, balançou os pés quando eles começaram a incomodar formigando... Entretanto, olhou para cima. Olhou para frente, e enxergou. Enxergou alguém que a enxergava. Ela poderia ter agido infantilmente, ter pulado de alegria, ou exposto em cartazes pela cidade, mas, cautelosamente, ela observou o rosto, e reconheceu cada pedacinho dele, cada curva e as fendas ao lado do sorriso torto. Sustentou o olhar, não o desviaria até resolver para que lado correria, ou aonde acharia protecção para esconder as suas olheiras e conceitos ridículos. Ele caminhou, caminhou, caminhou, e fez um sinal de reconhecimento. Ela não conseguia mover um músculo do corpo, sempre a presença a deixava mais e mais inconsequente, de uma forma que ela nunca fora. O poder que ele possuía, ela mesma colocara nas suas mãos infantis, e este, meus caros, este era infantil, e ela gostava. ( Farei uma pausa para um pequena critica a idiotice feminina que obstantes da incredulidade mundial em sentimentos profundos, a gente ainda faz o favor de intitular os mais inescrupulosos seres para serem nossos únicos a enxergar, ok) . Então, carregada de veneno, levantou-se bruscamente, pode sentir os dedos longos dele apertarem seu braço, e com uma força irreal puxou. O toque propiciou um avalanche de sentidos em um só lugar. Sentiu o cheiro de lavanda do sabonete dele, ouviu a sua voz sempre meio irritante com aquele sotaque sulista, a sua pele quente ainda perdurava a dela fria e áspera, e o vomito chegou a boca em um tempo incrível. Ela andou rápido, e ele não a acompanhou. Ela era eterna com ele, ele era eterno com ele mesmo e mais ninguém. Ela de alguma forma superior a ele, estava na lama, pelo menos a lama era dela. Ele estava a dançar com os sapos, os sapos que ela inveja mais do que tudo, os sapos que ela pagaria para ser, os sapos que ela comeria vivos nos olhos de outros, nos dele, ela os abraçaria. E assim, ela o fez. Mão no bolso da camisa, cigarro na outra mão, cabeça baixa, andar errante, olhar perdido, e sorrindo ela foi andando pela lama, tropeçando e rindo, caindo e levantando, mas, sem desejar mais os sapos de autoria dele, estes ela não veria mais nem que tivesse que engolir outros sapos. Estes? Nunca mais.

domingo, 26 de outubro de 2008

NÃO LEIAM ISSO. OU LEIAM, ENTRETANTO NÃO FAZ PARTE DO PROPÓSITO DO BLOGGER, É SÓ UM PONTO DE LUZ. SÓ UM. ;)








O dia nunca aparece com o sol nascendo poeticamente, ele simplesmente vai clareando a noite traumática como se lava uma coisa muito suja. Assisti ele surgir pela janela quadrada, sentada no banheiro cinza com cheiro de vomito, agora. O vento vem balançar meus pensamentos e conceitos. Você carrega um P de perfeição ao dizer que meus dedos gordos e com unhas roídas são bonitos. Esse pê que eu deveria adorar e finalmente me deixar render. Bem que tento. Olho tudo de cima, me observo com as pernas cruzadas de maneira estranha com o braço apoiado no aparelho sanitário, parece que sempre pertenci aqui, que nunca calçarei sapatinhos de cristal visto que o all star já me dá calo suficiente, e que consigo sobreviver ao ver uma barata, teve até uma vez que salvei um bichinho pra lá de feio de se afogar na água. Nunca foi do meu legado ser a almejada e a que almeja por amor. Por isso, você me surpreendeu engraçadamente, um misto de susto de halloween com alegria. Minhas tentativas ecoavam pelos meus dedos gordos e meu desespero em não conseguir estava já a me irritar, pois você continua a me perpetuar em um pedestal como se a minha falta de senso comum fosse algo digno de admiração. Algumas vezes a coisa mais difícil a se fazer é admitir a sua natureza, quem és e quem ninguém jamais ousará mudar. E você nada contra a correnteza, eu me dou como caso perdido, e você me dá eletrochoques sem cessar nunca, com uma esperança que me assusta, com um amor incondicional, com uma compreensão que me enternece. Recordo do dia em que andando de mãos dadas pelas ruas dessa metrópole, você me perguntou se eu já tinha escrito algo sobre você, tentei de toda forma explicar que somente os que me provocam cicatrizes profundas doloridas tinham esse privilégio, meu lado masoquista falava mais alto em dar tal presente aos cretinos, e que tu não eras uma destes seres despresiveis, me fazes rir e isso já é contraditório demais para escrever sobre. Quando ontem, eu vi que eras diferente até nisto, eu tinha marcas provocadas por você, marcas das minhas unhas curtas que me arranho toda vez que lembro o quão indulgente sou, o quão idiota me torno a não te ter como amor único e profundo, não mereço esse teu poder, não mereço isso. Eu já larguei a bandeira branca a tempos, não sou uma vítima, entretanto nem no jogo estou, e você não me deixa sair, desistir de sonhar, de querer ter algo bom dentro de mim. E eu te agradeço, daqui vendo o sol nascer, admito que o meu conforto está dentro dos seus braços carinhosos, admito que não deveria ser tão dura com meu passado, mas não consigo e me arranho mais. Quero ver até onde irei me arranhando sem você notar. Sem o seu pê de perfeição me fazer parar, por que você luta comigo para me salvar, me obrigando a respirar todo dia para erguer minha cabeça mesmo contra minha vontade, para limpar a sujeira do dia anterior, para me lembrar a sorte que carrego em você me carregar nas costas. Levanto-me do chão, está frio demais, telefone toca. É você.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

soro

Lágrimas são ações reflexas do nosso sistema imunológico, que ilogicamente expulsa algo de ruim ou objetos estranhos do olho. Essa é a definição mais direta que consegui. Subiu pela traquéia tudo que fazia meu coração bombear, senti arrastar dores e lembranças por que eu não paro de remoer espinhos. Eu deveria cultivar beleza e graciosidade e tal, mas, dissestes um dia que estas definições não importavam que definições não fossem lá importantes, e me deu ânsia de vomito. A temperatura do vomito morna não condiz comigo, meu pulsante coração de gelo é só carne e músculo involuntário, e meus pensamentos estão a vapor quente e incendiário. Tentaste tocar lá na caixa torácica e o ácido que carrego ao redor do órgão cardiológico te queimou, por isso minha ânsia de vomito. Por isso sentei na beirada da ponte, balancei as pernas sem receio para o desfiladeiro, brinquei com arma que não era de brinquedo, por isso o perigo me instiga, me faz ser mais humana. Tudo isso atacando meu cérebro e eu não saí do lado do vaso sanitário do meu banheiro extremamente branco. Acendi um cigarro, saboreei o que ele me trás de misantropia e rebeldia. A beleza de estar vivendo por uns minutos contra a sociedade saudável, meu grito calado contra a ditadura de tudo que amas, contra a necessidade de pressa, sentada e apreciando silenciosamente com um sorriso no canto da boca. Escorreu do meu olho uma gota, pena que ninguém poderá me informar se esta é a famosa lágrima. Dizem os mais velhos que elas lavam a alma, os titãs cantam que tem gosto de soro, os poetas se inspiram com essa água e eu suspiro de tédio. Tédio do destino. Destino que é ridículo. Ridículo é você. E eu amo você, vivo o tédio, vivo você e ajo ridiculamente. Sou você, não consigo te odiar. Deveria, mas, não consigo. Minha boca se abre em um bocejo. Aonde tropecei e perdi os sentimentos? Jurava que os carregava junto ao peito apertando-os contra o peito, e agora estou com as mãos soltas no ar, e na minha memória não faço idéia onde os deixei. Estou passiva, estou maquina, a rir, a trabalhar, a andar, a respirar. Corações quebrados não costumam reagir assim e esse fato só me deixa mais ciente da minha falta cardiológica, do vazio. Talvez não sinta mais, talvez nunca sentisse, talvez ele (meu coração) não exista, não sinta, não bata. Não deveria, não pararia se te tocasse uma só vez, como uma eletricidade pulsante sombreada luz azul. O cigarro acabou, minha existência passa a pesar sob meus ombros pequenos e frágeis, e a existência é uma gorda nojenta. Eu sou fraca, não resisto a existir. Não resisto a você. Prefiro desistir, desisti de existir, desisti de você, desisti de sentir o gosto de soro e lavar a minha alma, desisti de mim.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

desire.

Só quem tem o poder de te fazer sentir viva, pode fazer você se sentir morta. Só quem arrepia cada centímetro do seu corpo e faz você sentir o sangue bombear num ritmo charmoso, é capaz de estragar o mundo quando parte. Só quem tem o poder de tornar o mundo leve e fazê-la flutuar, também pode afundar sua noite e fazer com que seu corpo se arraste pelos restos que sobraram da festa. Aonde está a força de negar um desejo se enquanto ele não é saciado continua existindo? Desejos nascem, ocupam lugares interessantes do seu corpo, e não morrem antes de um formigamento exausto, uma manhã suja de arrependimentos, hálitos estragados de amargura e clicks que a vida nos dá, também chamados de momentos de verdade, que em muito se parecem com toques de mágica para você sair do estado encantado e falso da imaginação. O tempo não se encarrega de matar desejos, apenas de substituir os personagens. Você pensa que é forte sendo moralista, respirando fundo, contando até mil, sumindo da festa, rezando, desviando sua atenção, mas ele está lá, abraçado com a sua amiga, enquanto você está quietinha deitadinha calminha. O que irrita é saber que eu fugo que nem uma louca desvairada, que eu viro de lado e disfarço pacas. Queria ter dez minutos com você, o bastante para não mudar minha vida em nada. Quero outra vida. Não estou nem aí pra você. Só penso em você. Você é meu amigo, você é um conhecido, você foi a melhor noite da minha vida. Mais do que qualquer certeza, confusão é paixão. Quis demais que você fosse embora, quis demais que você ficasse pra sempre, quis não pensar, me agarrei numa lógica fria que berrou no meu ouvido que toda ação tem sua reação, mas, a minha reação mal chega perto de o quanto eu reagiria ao toque seu. Então fique no seu cantinho, que eu curto meu desejo se transformar em outra cara, por que eu não aguento mais de tanto poder que você possui no meu desejo.