quarta-feira, 19 de novembro de 2008

palhaçada.

Estou acostumada com o belo espetáculo em cartaz. ‘Venham senhoras e senhores! A aberração está a sorrir!’ O espetáculo de sempre, o de toda noite, dia, hora, segundo. O de sempre ser a coadjuvante de minha vida, como um personagem deslocado de um contexto maior, apertada entre os grandes e ilustres homens e mulheres, pequena no seu minúsculo mundinho, e dentro deste minúsculo mundo, eu sou a secundária. Coadjuvante nos espetáculos do meu teatro. Trata-se de uma comédia nojenta e a palhaça sou eu, palhaça sem graça própria, pois a sua existência é uma piada visto que é bastante adaptada a sua necessidade de incomodar, incomodar tudo e todos ao redor com a sua insignificância patológica. A palhaça, e não a colombina, não as confunda, e não confunda a imensidão com a insignificância, não confunda o riso com atenção, não confunda mãos com carinho, não confunda, por favor. O pierrot nunca virou o rosto em minha direção perdida entre os babados da minha roupa larga, colorida e chamativa, minha roupa que esconde todos os movimentos rápidos e imprecisos do meu órgão cardiológico ao lado do pierrot apaixonado pela colombina, ao lado , mas invisível. O entretenimento é bom, tire proveito das horas de risadas, não observe minhas olhadas maquiladas de canto para o protagonista, mantenha suas atenções na beleza da moçinha e não esqueça de rir da palhaça. Não consigo ficar todos os segundos que sou obrigada a ficar, fingindo desta forma desarcebada, então corro, procuro um tom de compreensão nos olhos desnudados em minha direção em cima do palco, e antes de entrar, sento-me no meu camarim, alias, no da moçinha pois não possuo um no meu teatro, sento e tento me ajeitar, copiando a estrela sentada logo ali, que brilha só por ser. Subo no palco frio, não consigo ser tão ágil ou carismática, e o publico não é convalescente. Eu olho para cima e as luzes me cegam, uma clautofobia de mim mesma pulsa entre as veias, e tudo passa rápido pelos meus olhos, todos riem do meu sorriso, afinal arvore no cenário é empecilho, e eu sou bem menos necessária nessa trama. Diversão para os rostos exasperados na platéia e a minha perdição em tentar obter alguma importância de alguma forma de alguém. Mas, tantos ‘alguns’ tornam a busca infindável e desnecessária, estou cansada e não importa o quanto queira esmorecer eu continuo de pé com um sorriso desenhado em meu rosto rasgado de orelha a orelha com a boca fechada. O som dos risos ecoam. Eu já deveria saber.