sábado, 24 de maio de 2008

night.

Senti seu olhar na minha nuca, e depois perseguindo meu cabelo, descendo pelo meu colo, olhando disfarçadamente para a estampa da minha camiseta. 'olha só, quem é viva sempre aparece', na verdade você que tá morto. Passei a noite rindo da minha desgraça super visível nos meus míseros olhares para o seu lado. A verdade é um véu que cai suavemente no seu ombro, cabe a você sentir o peso, ou aceitar a sua presença se acostumando com a sua leveza. Seu olhar me cobriu como um véu, e eu cheguei a acreditar que você entendia agora, a verdade sobre 'nós'. Duvidei um segundo depois, liguei para ele (o outro ele), esperneei, beijei outras bocas, ri desesperadamente, me comportei como uma mocinha, fui simpática, alegre, volátil com sua nova coisinha. Alias, aproveitando a oportunidade, parabéns, está tentando mudar. Deixou aquele ar de constante desinteresse pelo redor, concentrado tão somente na sua dor ridícula, que era exatamente o que me atraia em você, era isso, meu deus, que atitude mais masoquista. Pelo menos, está carinhoso com a coisinha, fofinho, cavaleiro, menos charmoso, isso sumiu a partir do momento que você permetiu o afastamento da dor. Na verdade, o nosso problema foi o tempo, somente ele. Que atrapalhou todos os planos, espantou todas as esperanças, amordaçou todos os sentimentos bons, acentuou os problemas, e nos fez calar em relação ao que sentíamos, acabou dando tudo num puto desentendimento fudido, um dos desentendimentos que não me perdoou. A noite fluiu bem, eu fiquei feliz, bêbada, fiz amizades, fui cantada, beijei na boca, dancei, engoli quantos cigarros necessários para acabar com o resto de integridade nos meus atos, olhava pra você e não sentia nada, me enchi de mim, os pulmões, o coração, acho que até meu cérebro inchou com a possibilidade de ter me livrado de você. Dentro do carro, mais lembranças avançaram a linha do natural, entretanto consegui magicamente continuar sentada ali sem sentir um sequer formigamento. O mesmo jeito de ajeitar o cabelo. De olhar no retrovisor. Opa. Trocas de olhares. Opa. Hora de dar tchau, porra, perfume. Mil pedaçinhos de cacos atravessam meu corpo como se eu tivesse em cima de uma piscina de vidro, andando calmamente em cima dela, e por um deslise, aquele momento de leveza se desfez ao vento, o vidro quebrou, e a piscina não é nada rasa, o ar foi faltando, disfarçei com uma tosse nervosa, o coração deu aquela parada mortal de 1 segundo quando alguém se encontra nessa situação, como se tivesse avisando que morreria por aquela pessoa. Entrei pelo portão de ferro, com um sorriso no rosto, ele também tava sorrindo, mandou eu ligar depois, durante a semana. OK. Fechei a porta de madeira, encostei a cabeça na madeira e sentir o cheiro invadir minhas narinas com aquele poder da vida, que tira todos os controles, que você achava que te pertenciam, da sua vida lentamente pelos seus dedos, escoando em um líquido viscoso e verde. Não lembro quanto tempo fiquei ali, em pé, sentindo a madeira fria no meu corpo, sentindo meu poder todo de liberdade, de individualismo, de felicidade solteira se esvair em dois miséros segundos, como se todo o meu trabalho valesse nada, me perdi, ali escostada. Só sei que fui dormir pensando em como eu poderia ser a pessoa que ia te amar mais do que qualquer pessoa nesse mundo e isso nunca irá acontecer.

2 comentários:

htr disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
TIAGO JULIO MARTINS disse...

As sensações incompreensíveis de quando estamos com o coração, a mente, a alma e todos os sentidos transbordando de sentimentos parecem tão verdadeiras nas tuas palavras... É penetrante.

Descobri que não preciso de sentimentos plastificados e feitas de confusão pra senti-las.

Ah.. Como eu precisava disso...
Obrigado, moça. :)