sábado, 3 de maio de 2008

unhas azuis.

Minhas unhas têm esmalte azul. Meus óculos escuros têm lente rosa. Meu quarto tem uma parede lilás. Eu uso cabelo loiro, é, amarelo. Se eu vacilar eu acabo me afundando dentro da minha escuridão, não posso dar essa chance não. É a constante luta para ver se me seguro em algo, em c[am]ores, em amigos, por que mais do que nunca está estampado na minha cara que eu não consigo sozinha. Não é que eu não queira e não tente. Eu tento. Só não sou o tipão que se finge de forte, só pra não dar o braço a torcer. Opa. Eu sou esse tipão. Ontem de noite, eu chorei. Desesperadamente, em pé na garoa, maquiagem manchada, cabelo encharcado, três horas da manhã, uma amiga vomitando, outra começando a namorar, meu ex - melhor amigo aos beijos com essa do vomito, minha irmã preocupada com seu umbigo, o namorado dela preocupado com o umbigo dela, um mendigo perto, carros, adolescentes drogados fingidos. Meu mundo despedaçou mais ainda. Parece que não consigo fazer nada certo, eu afasto amigos queridos com medo deles estarem próximos demais, por que o medo de perder os que já são essenciais é insuportável. Basicamente, eu queria que alguém soubesse que quando eu digo ‘não’ eu quero dizer ‘preciso que você fique hoje comigo’. Quando eu nego um abraço, é como se eu tivesse mostrando o quão desesperada eu estou por não conseguir soltar, por que eu sei que quando eu abraçar, vai ser com força, vai ser com amor, mas, eu vou ter que soltar, eu sempre tenho que soltar. E eu continuo pintando minhas unhas de azul. Calmamente, sentada na minha cama com colcha verde. Eu queria que meu sorriso fosse o favorito sorriso de alguém. Eu queria que alguém segurasse a minha mão, e não esquecesse o que eu falo. As pessoas têm perca de memória. Quando eu digo que não vou perder de vista, eu não vou. Quando eu digo que eu sempre vou lembrar, sempre é sempre. Eu queria que meu cabelo fosse o que tivesse o cheiro mais agradável pra alguém. Mas, olha pra mim. Eu não sou o tipo de mulher que é assim para alguém, eu costumo ser a amiga legal, a que limpa o vomito da amiga, é, aquela lá de cima sujou meu quarto todo, amanheceu, eu ainda estava de botas, maquiagem, e abaixada limpava os restos da noite maravilhosa e glamurosa. Por que como vocês já devem ter percebido, a minha vida não é maravilhosa e glamurosa. Eu não sou maravilhosa e glamurosa. Entretanto, cá estou eu, com as minhas unhas azuis. E minha dignidade? Onde ta? Se alguém a vir vagando por ai, avisa a ela que a dona ta aqui, ainda esperando. Eu liguei pra ele. Esperei que ele lembrasse do que eu falei. Ninguém lembra. Perder de vista? Eu nunca vou. Sempre vou te observar nem que seja de longe, mas, eu queria ser o motivo de você ta no mundo, mesmo sabendo que isso é impossível, alguém já conquistou esse lugar aí. Minhas unhas ainda estão azuis. O chão já está limpo, o quarto arrumado, e tudo uma bagunça dentro de mim. Eu queria que você precisasse de mim, que passasse a noite em claro sem mim. Você ta lá. Eu to aqui. E 'a gente' não existe, não é mesmo? Ponho os óculos rosa, quem sabe o mundo melhora, quem sabe a minha amiga para de vomitar, meu ex - melhor amigo presta atenção ao redor, que a outra namore um cara legal, e que minha irmã e o namorado descubram que não existem só umbigos no mundo. Quem sabe um dia eu vire uma razão, ou não. Enquanto isso, eu vou comprar uma acetona, que esse azul já me encheu.

2 comentários:

Leo disse...

eita mocinha...
que posts mais bontios, porém tristes
eu gosto do seu sorriso
não é meu favorito, mas també, eu não tenho um favorito
uehuehuheuheuhe
mas eu gosto muito muito muito =)
e espero que já tenha voltado pro seu rostinho querido
;*******

Morganna disse...

hey, taís! táquipariu. tu escreve bem. :D

e aí vem a pergunta: por que as pessoas se abandonam tanto?
eu gostei da parte do abraço. muito.
:*