terça-feira, 20 de outubro de 2009

Breathe.

Eu te traguei. Como tabaco barato te apertei, lambi e o enrolei. Te comprei numa banca barata na esquina da praia. Sentei-me no meio fio com os joelhos unidos, a barriga enrolada. Quando peguei o isqueiro, minhas mãos tremiam, e eu te segurava nos lábios ressecados. Ao aproximar a chama, você queimou e eu finalmente te traguei. Te ingeri rápido, intenso, entretanto nada indolor. Machucando a garganta, fazendo o coração palpitar irregular, te injectei dentro de mim. Te prendi, te atei aos meus pés, sedenta com as unhas na tua fumaça, me perdi no teu cheiro forte. Segurei a respiração, não te deixo escapar. Daqui de dentro, você não sai. Nem que eu passe a vida sem respirar, nem que nunca mais sinta uma brisa, nem que nunca mais viva. Mas, meu corpo te expulsa, como num veredicto que eu não consigo te ter sem me envenenar. E me resta, enfim, te ver sumir como todos os outros ares, comum, passageiro, câncer dentro de mim, vento você.

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